🌹50 Canções Que Gritaram Liberdade – #18 “Vejam Bem” – José Afonso

Vejam Bem com letra, música e interpretação de José Afonso foi tema incluído no LP Cantares de Andarilho e editado em 1968 pela Orfeu.
Para melhor se compreender a letra desta canção passamos a publicar o texto publicado pela Associação José Afonso que nos revela o significado escondido em certas palavras, num tempo em que as letras de tudo o que era publicado era submetidas ao crivo da censura:

(…)o motivo de “dormir ao relento” é usado frequentemente nos textos de José Afonso, o que este texto vem ilustrar. Mas fazem-se outras referências à vida de quem se opõe ao regime e à PIDE:

“Gaivotas em terra” é uma expressão utilizada para anunciar uma tempestade e, em sentido mais figurado, para anunciar uma catástrofe ou um período conturbado. José Afonso quer advertir o ouvinte de que o pensamento em si é somente o primeiro passo para a mudança. Se algumas pessoas dizem que a revolução não se faz com canções, o mesmo se pode dizer do pensamento, embora este seja a base em que ela assenta.
A “estátua” já é uma referência mais directa e concreta à PIDE. Trata-se de uma técnica de tortura que se aplicava para extrair confissões. O detido tinha de ficar de pé por horas seguidas, sem que se pudesse apoiar. Se adormecia, era logo acordado com um sons agudos e súbitos. Outra referência a esta técnica faz-se no texto “Por trás daquela janela”.
Além de “dormir ao relento”, a vida isolada do oposicionista exprime-se através da imagem do homem que é torturado à vista de outras pessoas, sem que ninguém o venha ajudar. A sua actividade clandestina define-se como a luta por uma melhor distribuição dos bens (“caminhos do pão”). Por muito fraco que seja o sistema autoritário (“a fraca figura”), tem de lutar sozinho, pois não encontra com quem lutar.

Vejam bem
Que não há só gaivotas em terra
Quando um homem se põe a pensar
Quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
Dorme à noite ao relento na areia
Dorme à noite ao relento no mar
Dorme à noite ao relento no mar
E se houver
Uma praça de gente madura
E uma estátua
E uma estátua de frente a arder
Anda alguém
Pela noite de breu à procura
E não há quem lhe queira valer
E não há quem lhe queira valer
Vejam bem
Daquele homem a fraca figura
Desbravando os caminhos do pão
Desbravando os caminhos do pão
E se houver
Uma praça de gente madura
Ninguém vem levantá-lo do chão
Ninguém vem levantá-lo do chão
Vejam bem
Que não há só gaivotas em terra
Quando um homem
Quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
Dorme à noite ao relento na areia
Dorme à noite ao relento no mar
Dorme à noite ao relento no mar

Vídeo 1: Versão estúdio
Vídeo 2: Versão de Marisa Liz
Vídeo 3: Versão dos UHF
Vídeo 4: Versão de Luís Sequeira
Vídeo 5: Versão de Teresa Silva Carvalho
Vídeo 6: Por Pedro Jóia

Fonte: Festivais da Canção, Associação José Afonso

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.