A poesia no Festival da Canção – Colóquio amanhã na Faculdade de Letras

FC64-14Amanhã, dia 2 de fevereiro, data em que teve lugar, há 51 anos, o I Festival RTP da Canção (na altura, denominado como I Grande Prémio TV da Canção Portuguesa), vai acontecer na Faculdade de Letras de Lisboa um colóquio designado como As Palavras do Festival: o passado e o futuro da Poesia no Festival RTP da Canção. Este debate vai ter início às 17.30h e vai contar com as presenças de várias individualidades mencionadas aqui.

Hoje vamos colocar em destaque temas dos intervenientes neste colóquio e vamos fazê-lo cronologicamente.

José Luís Tinoco, autor e compositor, teve canções a concurso nos Festivais de 1971, 1972, 1975 (a vencedora) e 1976. Precisamente neste último ano a RTP convidou Carlos do Carmo para nos representar na Eurovisão e a interpretar oito temas que os autores e compositores fizeram precisamente para ele. O concurso foi aberto a todos os compositores que concorreram sob pseudónimo. José Luís Tinoco viu duas canções apuradas: Os lobos e ninguém que contava a história de quem não teve infância e para quem a vida foi madrasta: Guardou os rebanhos, dos lobos, à chuva e ao frio / Suou tardes de terra dura na ponta do estio / Comeu do pão magro / Da magra soldada Neste percurso de vida comum a tantos portugueses o poeta não esqueceu a presença de muitos jovens portugueses nas guerras coloniais: Abriu trincheiras, estradas, sonhou / Andou no mato perdeu a infância matou. Vídeo aqui.
Esta canção foi alvo de uma versão a que Dulce Pontes mais tarde viria a dar voz.

A outra canção que José Luís Tinoco fez para este festival constitui um dos Maiores êxitos da música portuguesa, chama-se No teu poema. Este tema é um dos que mais versões possui, Simone de Oliveira é a intérprete que mais vezes tem cantado esta canção. Podemos citar alguns dos grandes cantores que se renderam a este tema e fizeram questão em o interpretar, para além de Carlos do Carmo e de Simone de Oliveira: Dulce Pontes, Mafalda Arnauth, Fernando Girão, Paula Oliveira, Ricardo Afonso, Vanessa Silva, Amor Electro e mais recentemente As 3 Marias com Simone de Oliveira. Esta canção é de uma beleza poética e musical muito grande, porque no teu poema existe lugar para tudo e todos, como diz a própria canção é um verso em branco e sem medida…Existe a esperança acesa atrás do muro /  Existe tudo o mais que ainda me escapa / E um verso em branco à espera de futuro. Vídeo aqui.

Tozé Brito (Autor e compositor – FC1972, 1976, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1985 e 2012)
A canção Doce interpretada pelas Doce, no Festival da Canção de 1980, teve poema de Tozé Brito e música de Pedro Brito e assinalou o início da presença desta girls band no festivais.
As Doce caracterizavam-se por uma imagem ultra moderna, com coreografias sensuais e as letras das suas canções não eram exceção:
Doce é chegar ao fim de um dia / E acender em nós o fogo / Da noite que principia… Vídeo aqui.

Luís Oliveira (Compositor e produtor musical – FC/ESC1986, FC1988, FC2006, 2007) Em 1986 foi um dos autores e compositores da canção Não sejas mau p’ra mim, em parceria com Guilherme Inês e Zé da Ponte, a interpretação foi de Dora. Esta canção ganhou o festival e representou Portugal na Eurovisão. O poema conta-nos a história de um amor vivido, quiçá, na adolescência, onde a irreverência da intérprete marcou positiva e indelevelmente este poema e a canção no seu todo: Quero sonhar / Curtir, abraçar / O fogo que arde em ti / Não sejas mau p’ra mim. Vídeo aqui.

Nuno Gomes dos Santos (Escritor, autor e compositor – FC1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1998 entre outros). Muitos foram os poemas que Nuno Gomes dos Santos fez para o festival, hoje vamos destacar uma das suas últimas participações, precisamente a de 1998 com o tema Só o mar ficou que teve poema seu, música de João Carlos Mota Oliveira e interpretação de Teresa Radamanto. Neste poema o seu autor fala-nos da tendência e do sonho dos portugueses que descobriram outros povo na sua aventura marítima: Por quem adornou / Numa  barca um sonho alto / Foi um povo em sobressalto / Amando o mar. Vídeo aqui.

Luana Norte participou nos Festivais da Canção de 2000 e 2001, ganhando o primeiro enquanto poetisa, com Sonhos mágicos, com música de Gerardo Rodrigues e interpretação de Liana. Nestes sonhos mágicos imagina-se um mundo perfeito ou quase, sempre por força do amor: Apagar o medo, a dor / Magia assim / Apenas por amar. Vídeo aqui.

Alexandre Honrado assinou juntamente com Ernesto Leite e com Zé da Ponte (recentemente falecido) a canção selecionada internamente, pela RTP, para o ESC 2005, com o título Amar, para as vozes de Rui Drumond e de Luciana Ab reu (2B). Um tema bilingue (em português e inglês) talvez para conseguir ir mais além, mas não foi. Vídeo aqui.

Fernando Abrantes (Compositor e produtor musical – FC1996, 2007, 2009) Não podemos falar das palavras de Fernando Abrantes no festival porque a sua colaboração foi sempre como co-compositor nos temas Star Stop (1996), Ai de quem nunca cantou (2007) e Voar é ver (2009), Vamos relembrar precisamente Voar é ver que tem interpretação de Francisco Andrade, com poema de Carlos Massa, para além de Fernando Abrantes esta composição foi assinada também por Carlos Massa. Vídeo aqui.

Emanuel teve três participações nos festivais (1991, 2007, 2014). Foi vencedor nos dois últimos anos. Em 2014 assinou a letra do tema Quero ser tua, enquanto em 2007 dividiu a autoria com Tó Maria Vinhas da canção Dança comigo (vem ser feliz) por Sabrina (agora Maria Teresa) e em 1991 assinou a letra e a música de Com muito amor onde foi intérprete. Colocamos em destaque a letra de Quero ser tua que teve interpretação de Suzy. Emanuel preocupa-se em fazer textos simples que cheguem de imediato ao público, nomeadamente aos espetadores estrangeiros quando se trata de canções para a Eurovisão. Na realidade em Copenhaga, em 2014, todos cantavam uáuáué / Quero ser tua, mesmo sem saberem português. Vídeo aqui.

Porém, ao longo de 51 anos de Festivais da Canção muitos foram os nomes que fizeram poemas para as canções concorrentes, neste grande certame da cultura portuguesa, mas há dois que não podemos esquecer nunca: Ary dos Santos e Rosa de Lobato Faria.

Nestas crónicas já falámos de Ary quando lembrámos a Desfolhada, mas não podemos deixar de lembrar mais cinco grandes textos:
Canção de madrugar – 2º lugar no FC1970 por Hugo Maia Loureiro – Vídeo aqui.
Cavalo à solta – 3º lugar no FC1971 por Fernando Tordo que foi também compositor – Vídeo aqui.
Tourada – Uma genial crítica ao regime de então – 1º lugar no FC1973 – Vídeo aqui.
Apenas o meu povo – Uma canção de indignação que valeu a Simone de Oliveira o Prémio de Interpretação – Vídeo aqui.
Estrela da tarde – Um dos grandes temas que ficou do Festival da Canção de 1976, a música é de Fernando Tordo – Vídeo aqui.
Ary dos Santos trouxe ao festival a inquietação e o inconformismo com o previamente estabelecido, com as falsas morais e a injustiça social.

Rosa Lobato de Faria assinou os poemas de várias canções nos festivais dos anos 90. Foi vencedora em 1992 com Amor d’água fresca com música e interpretação de Dina (Vídeo aqui), voltou a ganhar em 1994 com Chamar a música, uma composição de João Carlos Mota Oliveira e interpretação de Sara Tavares, vídeo aqui. No ano seguinte assinou o poema e Baunilha e Chocolate com música do maestro Vitorino de Almeida e interpretação de Tó Cruz (Vídeo aqui) e em 1997 volta às vitórias com Antes do adeus, a música foi de Thilo Krasmann e a interpretação de Célia Lawson, vídeo aqui.
Na poesia  de Rosa de Lobato Faria os sabores e as cores eram recorrentes.

Os vídeos das canções anteriormente mencionadas podem ser encontrados no nosso canal de youtube,.

Dia 2 de Fevereiro não esqueça de comemorar o 51º do Festival da Canção no Colóquio que vai ter lugar às 17.30 na Faculdade de Letras ver o convite aqui. A entrada é livre a todos os que queiram fazer parte deste debate.

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