Paulo de Carvalho com E Depois do Adeus tornou-se o vencedor do XI Grande Prémio TV da Canção Portuguesa 1974 que teve lugar a 7 de Março no Teatro Maria Matos, em Lisboa, com apresentação de Glória de Matos e do saudoso Artur Agostinho que hoje faria 100 anos.
Esta canção foi a primeira senha para o arranque do Movimento dos Capitães que 25 de Abril desse ano devolveria a liberdade aos portugueses. Esta canção com letra de José Niza e música de José Calvário foi selecionada para entrar na História de Portugal porque como tinha sido a nossa representante no Festival da Eurovisão e era uma canção de amor não levantaria qualquer suspeita de insurreição.
Apesar de ser um excelente canção desde então, tinha eu cerca de 14 anos, defendi que esta não iria ser uma escolha adequada para a Eurovisão de então e como se viu pelo resultado obtido no ESC, não era mesmo a canção indicada. A entrada portuguesa classificou-se em último lugar, em ex aequo com mais três canções, recolhendo apenas três pontos.
No ano em que os Abba se tornaram os vencedores e que tudo apontava para uma mudança de registo E Depois do Adeus não era mesmo a escolha certa.
Sei que a RTP de então estava muito apostada em ter Paulo de Carvalho na Eurovisão, basta dizer que dos 90 pontos que o júri de seleção dispunha para votar nas 10 canções concorrentes, 86 foram inteirinhos para o tema vencedor. Desde 1971, ano em que Paulo de Carvalho se classificou em 2º lugar com Flor sem Tempo, que havia uma certa vontade que este cantor nos representasse na Eurovisão.
Repito que E Depois do Adeus é uma excelente canção, mas a canção mais indicada e que foi mesmo uma oportunidade perdida não ter sido pontuada de forma a que nos representasse no Festival Eurovisão da Canção foi a que se classificou em segundo lugar, o tema No Dia Em Que O Rei Fez Anos da autoria de José Cid e interpretada pelos Green Windows (António Moniz Pereira, José Cid, Maria Armanda, Mike Sergeant, Rita Ribeiro e Victor Mamede).
Esta canção tinha a alegria em palco e a melodia que fariam toda a diferença no palco eurovisivo e certamente ascenderíamos, no mínimo, ao Top 10.
Num Festival da Canção onde algumas das canções transpareciam que o regime estava mesmo a ceder, No Dia Em Que O Rei Fez Anos denotava isso mesmo com expressões como o povo saiu à rua e passaram de noite a fronteira que na gíria se dizia foi a salto…
Esta canção da autoria de José Cid foi preterida por uma boa canção, mas não a mais indicada, quer para ser a senha do 25 de Abril (a não ser para não levantar suspeitas) e muito menos para nos representar na Eurovisão. Antes do Festival da Canção de 1974 as expectativas apontavam para os Green Windows face ao grande êxito que tinham obtido com o tema Vinte Anos. Os Green Windows também alcançaram o terceiro lugar, nesse festival, com o tema Imagens, também ele com expressões encobertas nas entrelinhas e com recados a um regime que cairia 18 dias depois.
Fonte: Festivais da Canção
festivaiscancao.wordpress.com 