Parabéns Festival da Canção – Hoje viajamos até 1971 |

Autor: André Miguel Godinho
Na noite de 11 de Fevereiro de 1971 aconteceu o VIII Grande Prémio TV da Canção Portuguesa, em direto do Teatro Tivoli, em Lisboa, tendo como anfitriões Henrique Mendes, já veterano na apresentação do evento e Ana Maria Lucas, que tinha sido eleita Miss Portugal no ano anterior.

Concorreram nove canções, escolhidas por concurso público, método usual nesta altura, num tempo em que a Censura ainda existia. No entanto, sinais de um tempo novo ou não, ou de alguma falta visão dos ditos censores, começam a aparecer canções a concurso que têm uma eminente mensagem política disfarçada, como são por exemplo as canções com autoria de José Carlos Ary dos Santos, que este ano tinha três poemas a concurso, e um deles veio a consagrar-se vencedor. O método usado para o apuramento da vencedora foi o júri distrital, sendo que os votos eram atribuídos de outra maneira, e não como é hoje: cada júri tinha direito a usar 15 votos distribuindo-os pelas canções, sendo que podiam atribuir os 15 votos à mesma canção. E como costume, desde o primeiro Grande Prémio TV da Canção, houve a presença de uma orquestra, como aliás era hábito em boa parte dos programas de música para televisão na altura!

A vencedora foi então a canção nº 2: Menina do Alto da Serra, com letra de José Carlos Ary dos Santos, música de Nuno Nazareth Fernandes e interpretada por Tonicha, que já se tinha estreado neste Festival em 1968. No entanto, apesar dos 103 pontos recebidos, mostrando um consenso generalizado por parte do júri que lhe atribuiu muitos votos, o público na sala não reagiu muito bem a esta vitória, já que tinha outras preferências, que recaíam sobretudo no 3º e 2º classificados: Fernando Tordo com Cavalo à Solta e Paulo de Carvalho com Flor Sem Tempo. Contudo, a canção na Eurovisão, foi até à altura a mais bem classificada de Portugal, obtendo um honroso 9º lugar, em Dublin, entre 18 concorrentes.

Foi um grande Festival, como foram aliás grande parte dos primeiros Festivais, onde concorriam os grandes nomes da música, não só cantores, mas sobretudo autores e do qual fizeram parte, além dos já referidos: Daphne, os grupos Intróito e Efe 5, Hugo Maia de Loureiro, Lenita Gentil e Duarte Mendes.

Este Festival contou ainda com uma parte onde atuaram grandes nomes da música internacional da altura: Karina, Malcolm Roberts, Maria Bethânia e ainda Carlos do Carmo, que também iria ter o seu momento como intérprete único num Festival, pouco anos depois, mas já numa outra realidade nacional!

Menina do alto da serra eleita como:
A melhor interpretação – Tonicha | O melhor visual – Tonicha |
Uma das mais eurovisivas | A canção vencedora

Flor sem tempo eleita como:
A melhor música – José Calvário | Uma das mais eurovisivas | A minha canção preferida

Cavalo à solta eleita como:
O melhor poema – Ary dos Santos | Uma das mais eurovisivas

Rosa, Roseira eleita como:
A pior canção

Carimbava o passaporte à canção vencedora?
Sim. É uma canção muito portuguesa, e só por isso foi uma digna representante do nosso país no palco europeu. O poema é muito bonito, a música também, e a imagem da Tonicha era muito elegante, muito cândida e transmitiu uma imagem interessante do nosso país lá fora.