25 de Abril de 1974 – “E Depois do Adeus” dá o arranque ao movimento dos Capitães

Eram 22 horas e 55 minutos do 24º dia do mês de Abril de 1974 e nos Emissores Associados de Lisboa era dada a primeira senha para o arranque do Movimento das Forças Armadas que tinham como missão libertar Portugal do regime totalitário em que esteve mergulhado durante 48 anos.
Esta senha foi dada por João Paulo Diniz aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa ao colocar a essa hora a canção vencedora do Festival RTP da Canção, o tema E Depois do Adeus da autoria de José Niza e de José Calvário, na voz de Paulo de Carvalho.

Esta canção foi escolhida para primeira senha, não pelo seu caráter contestatário que não tinha, mas certamente porque não levantaria quaisquer suspeitas, afinal era a canção que nesse ano nos tinha representado na Eurovisão e era constantemente passada nas rádios portuguesas.
Contudo, só José Niza nos poderia explicar as razões das suas palavras, se seriam apenas de caráter amoroso ou de interrogação política e social com os seguintes versos de E depois do adeus:
Quis saber quem sou, o que faço aqui que nos poderá levar para a interrogação do nosso papel numa sociedade fechada e autocrática, seria esta a intenção do seu autor? Fica a dúvida.
Porém no Festival RTP da Canção de 1974 existiram várias canções que furaram as malhas da censura como Imagens  pelos Green Windows que cantaram versos como estes Vão mudar os ventos da antiga história, afastando imagens da minha memória. E os ventos mudaram mesmo nesse ano.
Os mesmos Green Windows com o tema No dia em que o rei fez anos cantaram as minorias, os que de noite passaram a fronteira, a salto, como se dizia então, em busca de uma vida melhor, mas a gente que vivia do mar, os saltimbancos, os ciganos, o povo, desta vez passariam de noite a fronteira para fazer a festa num país então livre, conforme a canção veladamente  dizia ao ludibriar a censura: Vieram tribos ciganas, saltimbancos sem eira nem beira, evitaram a estrada real, e passaram de noite a fronteira, e veio a gente da gleba, mais a gente que vivia do mar, para enfeitar a cidade, e abrir-lhe as portas de par em par.
Também Verónica na sua Canção por todos vós chorava os mortos certamente os que pereceram nas guerras coloniais e nos dizia para termos esperança no além e que um dia viria o sol do bem: Pedi, pedi mais força do além, chorai, pelos que a pátria já não tem, pensai que um dia vem o sol do bem.

Se em 1969 Simone de Oliveira e Ary dos Santos com a Desfolhada desafiaram os valores morais hipocritamente instituídos e impostos, em 1973 o mesmo Ary e Fernando Tordo bandarilharam o regime com a Tourada que com as expressões do bárbaro espetáculo falaram de uma realidade ainda mais tirana, o do regime que castrou este povo durante anos e anos.

Vamos homenagear Abril com as palavras de João Paulo Diniz aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa e de Paulo de Carvalho com E Depois do Adeus.

No segundo vídeo recorde ou inteire-se do primeiro comunicado da designada Junta de Salvação Nacional após a ocupação da RTP lido por José Fialho Gouveia antecedido pela introdução de Fernando Balsinha.

Fonte:  Festivais da Canção

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