O X Grande Prémio TV da Canção Portuguesa 1973 primou por ter nas letras da maioria das cançóes concorrentes mensagens umas mais evidentes que outras, afinal estávamos a cerca de um ano da queda do regime fascista.
A canção que hoje colocamos em destaque quase ia ganhando esta edição do Festival da Canção, tendo ficado a quatro escassos pontos do tema vencedor, Tourada.
É Por Isso Que Eu Vivo tema letra de Ary dos Santos que assinou seis das dez canções a concurso, com música e interpretação de Paco Bandeira.
Se observarmos bem a letra desta canção que a seguir publicamos denota-se uma vontade de liberdade, de identidade, de um extravasar individual, de uma fúria latente que não dava para calar mais.
Eu sou a palavra lavrada e aberta
eu sou a raiz
eu sou a garganta de um homem que fala
e sabe o que diz
eu sou o silêncio das trevas que penso
das coisas que digo
sou filho do tempo, sou fúria do vento,
sou força do trigo
ai eu sou terra sou mágoa,
sou ventre, sou água
sou princípio e fim
ai não me falem em pranto,
não me rasguem o canto,
não me arranquem de mim
ah se eu pudesse ser tudo
ser morto, ser vivo, ser fogo, ser linho
ah se eu pudesse ser corpo, ser alma
ser fruto, ser pão e ser vinho
eu sou a semente que morre e se queima
e nem chega a nascer
eu sou o poeta que nasce da terra
com tudo a dizer
se digo, se canto, se falo, se mordo
se tardo é por mim
eu sou a demora do tempo que chora
por dentro do fim
ai a distância que vai
do celeiro ao tear
do cantar ao ceifeiro
ai a diferença que tem o luar
quando vem sob um céu de janeiro
ah como sinto vontade
em lavrar o meu corpo
em secar meu pranto
ah como sinto a verdade
ceifando meu trigo
mondando meu espanto
é por isso que eu digo
que sou forte e estou vivo
é por isso que eu sigo
é por isso que eu canto
eu sou terra sou mágoa
sou ventre sou água
sou princípio e fim
Vídeo 1: Versão estúdio por Paco Bandeira
Vídeo 2: Por Fernando Tordo
Vídeo 3: Atuação de Paco Bandeira ao vivo em Santa Maria da Feira
Vídeo 4: Versão de J. Quintela
Fonte: Festivais da Canção